O glamping do Retiro Atlântico, São Jorge, Açores

Nos Açores, a ilha de São Jorge traz-nos uma inquietude à alma… que é boa. Há um chamamento constante para a natureza, para dentro de nós. É algo que nos leva às nossas raízes e isso também encontrei no Retiro Atlântico, onde fiquei alojada. Chamam-lhe um pequeno “paraíso”, que fica “escondido” na freguesia de Urzelina, a cerca de 14 Km da Calheta, na bonita ilha de São Jorge. Conhecem o estilo de campismo “glamping”? E as tendas Yurt? Então, leiam aqui esta sugestão de alojamento na ilha de São Jorge… onde fiquei três noites e deixei a promessa de que ia voltar!

Entre o mar e a floresta está o Retiro Atlântico, que é um Parque de Campismo Rural e o primeiro espaço de glamping da Ilha de São Jorge, e que tem uma quinta biológica certificada, com cerca de 1500 variedades de plantas, incluindo a maior coleção em Portugal de frutíferas tropicais e subtropicais rara e bio. Basta pedirem e podem ter uma visita guiada, e bastante explicativa, por essa mesma coleção, onde os cachos de bananas despontam e onde pode visitar a estufa que é também uma espécie de maternidade de plantas… espreita-se pela janela e lá está a montanha do Pico, e o Piquinho, prontos a serem admirados.

São quatro as tendas Yurt “plantadas” nos socalcos da quinta. São apenas quatro e, por isso, são muito requisitadas. As yurt são umas tendas circulares, que são conhecidas por serem as casas dos pastores nómadas da Mongólia. Aqui, têm bastante mais conforto, com um chão de madeira, e a decoração é diferente em cada uma delas, cruzando os estilos rústico e o sofisticado. Apesar de ser considerado campismo rural, é muito diferente de tudo o que tinha já experimentado – ah! Aqui, os lençóis, toalhas, etc, está tudo incluído! Sempre que abria a janela ou a porta da Yurt e dava de caras com a natureza envolvente ou com a montanha do Pico na ilha em frente… era mágico.

Cheguei de barco, vinda do Faial, ao porto de Velas. Estavam lá para me receber o Hugo e e Natacha, casal que decidiu ter o seu projeto, o Retiro Atlântico, assente num espaço de mata florestal onde as tendas yurts sobressaem na paisagem. Se ao longe já nos trazem um ambiente romântico – ao estilo” um amor e uma cabana” – o interior das tendas é totalmente apaixonante. A decoração inclui muitos elementos Terra, mas também apontamentos modernos e que trazem um ambiente sofisticado, que as Yurts merecem. De noite, com as luzes acesas, o ambiente romântico duplica. Pego numa das mantas, coloco-a sobre as costas, porque arrefece um pouco à noite, e desfruto da esplanada.

Foi numa das noites, no Retiro Atlântico, que senti o esplendor das ilhas dos Açores. Tive a sorte de estar lá na noite de lua cheia. Apesar de o dia ter tido algumas nuvens, de noite elas dissiparam-se e deram lugar a um céu brilhante… de estrelas. Não há luzes de cidades aqui, a deturpar a luz que nos chega do além. A luz da lua estava tão forte que iluminava o mar e… a montanha do Pico que, toda descoberta, assomava-se à minha frente, como se estivesse nua, pela primeira vez.

Quis tirar fotografias e fazer vídeos que mostrassem esta maravilha da natureza, mas nenhuma lhe fez jus. Limitei-me a sentar numa das cadeiras, que temos cá fora da tenda, e a desfrutar o momento. Nessa noite, inúmeros cagarros faziam uma festa, e enchiam a noite com o seu cantar. Por vezes, parecem pessoas a rir, e levantam o tom até que de repente calam-se e não se ouvem mais. Tal como a luz cheia. Aquele momento foi irrepetível e marcou a minha estadia no Retiro Atlântico.

Mas, quem já me conhece sabe que para mim – e para toda a gente, se pensarmos bem – as viagens são marcantes pelas pessoas que encontramos pelo caminho. E o Hugo e a Natacha, em pouco tempo, tornam-se amigos dos seus hóspedes. Querem mostrar-lhes os encantos da ilha e, por isso, além do alojamento proporcionam aos seus hóspedes tours que dão a conhecer São Jorge, de uma ponta à outra. Pode ser de carro ou a pé pelos trilhos das Fajãs.

Fazemos umas sanduíches, estilo piquenique, e partimos para um dos trilhos que me deu a conhecer as Fajãs mais emblemáticas – Trilho da Fajã da Caldeira de Santo Cristo. O Hugo é quem quer ter o quintal cheio de plantas comestíveis e Natacha – que é Health Coach – dá workshops de cozinha vegetariana e aulas de Ioga. Fiz um almoço totalmente vegetariano e apresento-vos essa atividade mais abaixo.

A quinta estava na família de Hugo há muitos anos e Natacha ia para São Jorge de férias, desde criança. Quis o destino que se apaixonassem e o amor fez com que Natacha se mudasse definitivamente para a ilha. O projeto do Retiro Atlântico começou a ser construído em 2012 e abriram ao público em 2019.

Mas, o Retiro Atlântico é também um bom local para se sentir o viver de São Jorge. As Yurts são apenas o quarto, mas cada uma tem, em frente, a sua casa de banho individual. Curiosamente, estavam sempre quentes as casas de banho (têm secador de cabelo também). E tem ainda uma cozinha, ao ar livre, que todos os hóspedes podem utilizar. Incluindo se quiserem fazer churrascos, têm madeira e local para o fazer.

O pequeno-almoço está incluído na estadia do Retiro Atlântico e tem coisas muito boas e que primam pela diferença. Os pães, tanto o doce como o salgado, são caseiros e feitos diariamente, assim como o sumo natural de fruta (uma salada de palmas para todos os alojamentos que nos dão sumos de fruta natural!!!). Além disso, há sempre queijos da ilha, ovos cozidos, mel, compotas caseiras, tomates frescos – sempre que possível são tudo produtos da quinta ou de produtores da ilha – e fiambre. Há ainda café, chá e leite (ou um derivado vegetal).

Ainda retomando a ideia de que ao pequeno-almoço tudo é da quinta ou de vizinhos, há uma preocupação em que toda a decoração de plantas do Retiro Atlântico é para comer. Tudo o que está em redor das yurts é comestível, desde legumes, frutas, flores comestíveis, plantas para infusões, e até flores que dão “trabalho” às abelhas, que ali perto “fazem” o mel. Implementaram o sistema de permacultura e há um espaço que nos remete para uma verdadeira floresta tropical: onde Hugo reúne plantas do mundo inteiro, que aqui se dão bem, como mangueiras dos cinco continentes e bananas de todo o tipo (tem 10 variedades).

Num dos dias, fiz o workshop de cozinha vegetariana com a Natacha e saí de lá com várias dicas para comer de forma alternativa e mais saudável. Uma das receitas mágicas foi a morcela de arroz vegetariana a imitar a tradicional da ilha. Arregacei as mangas e ajudei a fazer. Estava delicioso! Não posso revelar a receita, porque é segredo da cozinheira Natacha, mas digo-vos que vale a pena fazer o workshop porque, além das boas ideias, fica já feito o almoço ou jantar, por exemplo.

Na terceira noite a dormir na minha Yurt, deitei-me e sentia que tinha um cagarro mesmo à porta. Aliás, estavam vários a fazerem uma cantoria desgarrada. Mas, sempre que eu abria a porta calavam-se. Parecia que estavam numa festa e não queriam que eu fizesse parte dela. Se calhar, estavam só chateados porque os ia trocar, no dia seguinte, pelo Pico. Deixei-me adormecer ao som das gotas da chuva noturna, a baterem no topo da tenda. Amanhã, já vou embora e já antecipo que vou ter saudades deste lugar. Mas, voltarei em breve! Prometo!

INFORMAÇÕES
Retiro Atlântico
Caminho do Extremo, 9800-425 Urzelina, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal
E-mail: retiro@retiroatlantico.com
Telefone: 00351 91 420 30 32
Site
Transfer de e para o porto de Velas tem um custo extra – contacte depois da reserva para fazer a marcação, dizendo a que horas chega o seu barco.
Muitos hóspedes alugam carro: têm estacionamento grátis no empreendimento.
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