Fogueiras de S. João (Hogueras de San Juan) em Alicante, Espanha

As Fogueiras de S. João (Hogueras de San Juan) são uma das mais tradicionais e animadas festas de Alicante, em Espanha. Realizam-se todos os anos, entre os dias 20 e 24 de junho, e são uma celebração que se dedica  ao fogo (Alicante on Fire). Há bandas na rua, sempre com música, fogo de artifício, e os “Ninots” dão outro brilho à cidade.

O que são os “Ninots”? São figuras humorísticas, realizadas manualmente, em papel, cartão e madeira, que ficam montadas em estruturas altas (como nos carros de Carnaval) e que são queimadas no dia 24 de junho. Existe sempre um “Ninot” adulto e outro infantil, que são salvos do fogo (indulto). Todos estão a concurso e ganham os mais bonitos e mais humorísticos.

No dia 24 de junho, todas as estruturas são queimadas, depois da meia-noite. Começa na que está frente ao Ayuntamiento (Câmara Municipal) e depois, com hora marcada, são queimados outros pelas ruas da cidade.

Qual a razão? As estruturas são satíricas. Então, ao queimarem-se estão a arder os problemas. E, queimando o Mal, ficará somente Bem… Assim se acredita com a tradição.

Na praia, no dia 23 de junho, à noite, fazem-se fogueiras no areal. As tradições podem variar, mas consegui perceber que a maior parte escreve, num papel, o que quer tirar de Mal da sua vida e o que quer de Bem. O papel vai para a fogueira e faz-se um banho de mar, com sete ondas. Mas, há muitas outras tradições e crendices… Cada pessoa faz a “queima” à sua maneira. Outros saltam às fogueiras também para “afastar males”, por mais um ano.

Estive três dias em Alicante, durante as festas, e pude assistir de perto às celebrações deste evento tão tradicional. Esta foi a minha vivência das festas de S. João de Alicante:

Durante a semana, na Plaza de Luceros, o trânsito fica fechado para as demonstrações de pirotecnia, uma por dia. Como são feitas durante o dia, a aposta não é nas cores mas sim no som… ou, neste caso, no ruído.
São seis as empresas de pirotecnia que mostram o que sabem fazer de melhor. Montam os foguetes e morteiros e, durante cerca de 5 minutos, dão tudo por tudo usando, cada uma, 100 quilos de pólvora.

Assisti à exibição de uma das empresas, neste evento que se chama Mascletà e que conta com a presença das Damas e Rainhas das Fogueiras – cada comissão de festas tem duas, uma adulta e uma criança.

Na Mascletà, pude ir para a zona de imprensa onde, perto da ação, lembrei-me de colocar os auscultadores nos ouvidos, porque já sabia do barulho que vinha aí.
O ruído dos foguetes, durante 5 minutos, torna-se ensurdecedor e sente-se em todo o corpo, como vibrações fortes. Nas varandas e nas ruas, as pessoas deliram e brincam, no final, dando votação à prestação.
Os pirotécnicos passam pela multidão que bate palmas e grita. É como se fossem o Cristiano Ronaldo da pirotecnia, a passar por eles. E, de certa forma, são mesmo.

Todas as noites de S. João são de festa, mas a de 24 de junho é o culminar de tudo. A noite estava quente. Até demasiado quente: 26 graus que me fazem transpirar mesmo sem me mexer. As ruas estavam cheias e os carros não entravam no perímetro do centro histórico.

Nas escadas, junto da Marina as pessoas sentaram-se à espera da queima das estruturas, ali em frente, e não se moviam um milímetro para deixar passar. Chegavam inclusive a dizer que havia passagem mais à frente, para não se mexerem. Tinham medo de ficar sem os centímetros de chão que conseguiram para se sentarem.

Mais à frente, começam a aumentar a segurança à volta de uma das estruturas. Corremos para o nosso ponto de encontro, no terraço do hotel Les Monges, que tem vista para o castelo.
À meia-noite em ponto (3 minutos antes, um morteiro, por minuto, avisava que estava prestes a começar) uma Palmeira, feita de fogo de artifício, ilumina toda a cidade de Alicante. Ouve-se o bruar de todos os que ocupam as ruas, seguido de palmas. E chega a arrepiar tanta emoção. Estavam abertas as fogueiras de S. João de Alicante.

Apesar de a queima ser a 24 de junho, à noite, nos últimos dias a festa é diária. Desde o dia 19 até dia 24 houve bandas na rua, a dar música – e até o “Despacito” (a música latina que tomou o número 1 nas tabelas de música durante meses) é tocado com saxofones, trompete, tambores e outros. As pessoas deliravam!

Também durante o dia há petardos lançados nas ruas, mesmo pelas mãos de crianças. Pedindo desde já desculpa pela triste comparação, havia momentos que parecia que estávamos num cenário de bombardeamentos e tiroteios, mas com pessoas em festa e a passearem nas ruas de Alicante.

Numa das ruas, na noite de 24 de junho, um grupo de crianças tinha uma caixa cheia de morteiros e fogo de artifício. Um adulto estava com elas, mas não controlava nada. Uma das crianças segurava um cigarro aceso, do adulto, para acender o rastilho das explosões, que de seguida se vão ouvir.

Mais à frente, viam-se as faúlhas no ar. Já tinha começado a queima das estruturas de papel e madeira, onde as comissões de festas gastam dezenas de milhares de euros (com apoios e patrocínios): a vencedora deste ano gastou 70 mil euros na produção da sua.

A primeira estrutura a ser queimada, está frente à câmara municipal (Ayuntamiento). Todas as ruas estavam atulhadas de gente, mas ainda ao longe – faço zoom com a câmara – consegui ver os bombeiros a controlarem todas as chamas e faúlhas, para que a festa não acabasse mal.

O público, com calor, e sedento de festa gritava “água, água” e os bombeiros faziam-lhes a vontade, virando as mangueiras para o seu lado. É o êxtase com gritos de alegria. Viam-se, aliás, crianças em biquínis à noite, só à espera que esse momento acontecesse. Confesso que houve momentos que também desejei conseguir um sopro de agua fresca. A noite estava quente… demasiado quente.

As queimas das estruturas decorrem durante a noite e madrugada e encontram-se bailaricos para todos os gostos, com música tradicional ou eletrónica. Os bares estão montados nas ruas e esta é a noite mais longa do ano em Alicante.

A tradição das fogueiras de S. João é algo muito importante para os habitantes de Alicante. São uma prova de um povo que é muito festeiro e se aplica de forma emotiva a estas festividades. Os preparativos são longos e culminam nestes dias de junho.

Fui ver de perto a queima da estrutura vencedora este ano. Estava lá a comissão de festas e as Damas e Rainha da Fogueira. No momento em que começou tudo a arder, agarraram-se umas às outras a chorarem de emoção e alegria. “Para elas, é uma enorme honra e um sonho de uma vida serem as Rainhas de uma Fogueira”, diz-me um dos guias que me acompanhou nesta viagem.

Enquanto esperámos que se inicie a queima, a banda toca algumas músicas e, nas janelas dos prédios vizinhos, lançam baldes de água a pedido dos festeiros, que se encontram nas ruas.
A Rainha da Fogueira acende um rastilho – que termina na estrutura de papel e madeira – que, por sua vez, pega imediatamente fogo e a combustão é instantânea e muito rápida. Em poucos minutos tudo está queimado e os bombeiros, mais uma vez, controlam as chamas. Esta festa já acabou, mas há mais estruturas para queimar. A noite ainda continua pela madrugada fora… Para o ano há mais!