No século XIX, Eça de Queirós (ou Eça de Queiroz), um dos maiores nomes da literatura portuguesa, deixou-nos não só os seus romances mais célebres, como “Os Maias” ou “O Primo Basílio”, mas também textos de viagem que revelam a sua curiosidade pelo Mundo. Entre eles está o livro “O Egipto – Notas de Viagem”, agora com nova edição, que devolve aos leitores a oportunidade de redescobrir o olhar queirosiano sobre uma das civilizações mais fascinantes da História.
Mais do que um relato turístico, o Egito de Eça é uma experiência de observação atenta. O autor viajou até ao país em 1869, como correspondente do jornal Gazeta de Notícias, para cobrir a inauguração do Canal do Suez – um acontecimento que marcaria profundamente a geopolítica e o comércio mundial. A partir daí, o escritor entrega-nos descrições vivas de cidades como Cairo e Alexandria, da imponência dos templos e das pirâmides, do Nilo que atravessa o deserto como uma artéria vital, e das gentes que encontrou pelo caminho.
Esta nova edição é um convite a revisitar esses textos com olhar contemporâneo. Quem lê Eça percebe logo que as suas impressões não são meros apontamentos de viagem: são quase quadros literários, onde a cor, a luz e o exotismo se misturam com uma ironia subtil e uma análise crítica que o caracterizam. O Egito surge, assim, como um território duplo: por um lado, um destino sonhado, cheio de mistério e monumentalidade; por outro, um espaço real, com as contradições sociais e culturais que o escritor retrata.
Ler para viajar, viajar para ler
Para quem se interessa por viagens, esta obra é um precioso testemunho de como se viajava no século XIX e de como um escritor português percecionava o Oriente numa época em que o que era “exótico” fascinava a Europa. Para quem prepara uma visita ao Egito hoje, a leitura funciona quase como um guia literário: um modo de compreender a relação entre passado e presente, entre o imaginário e a realidade. È uma boa forma de se preparar para a ancestral cultura egípcia.
O Egito de Eça, o Egito de hoje
A grandeza das pirâmides de Gizé, a enigmática Esfinge, o movimento intenso das ruas do Cairo, a travessia pelo Nilo… todos estes elementos continuam a ser pontos de atração para viajantes de todo o Mundo. No entanto, ao lermos Eça, percebemos que as paisagens e monumentos são mais do que cenários: são símbolos que transportam séculos de história e camadas de significado.
Viajar com Eça ao Egito, mesmo em papel, é também refletir sobre como olhamos o “outro”, o estrangeiro, o distante. A sua escrita é uma ponte entre a curiosidade europeia do século XIX e a experiência do viajante moderno que continua a deslumbrar-se diante da mesma monumentalidade.
Um convite a viajar
O relançamento desta obra vem ao encontro do crescente interesse por literatura de viagens e por narrativas que nos ajudam a compreender o Mundo através de diferentes tempos e perspetivas. Ao folhear estas páginas, sentimo-nos observadores de uma aventura sensorial, capaz de o transportar para desertos e palácios faraónicos, mas também para cafés, ruas movimentadas e encontros inesperados.
A OBRA
Publicada postumamente em 1926, O Egipto – Notas de Viagem é o relato da passagem do escritor por Gibraltar, Malta, Alexandria e Cairo. Eça de Queiroz partiu de Lisboa a convite do quediva egípcio, na companhia do seu amigo Conde de Resende, para assistir in loco à inauguração de uma das obras de engenharia mais impressionantes daquela época: o Canal do Suez.
Ao longo da viagem, o autor, então com 23 anos de idade, recolheu as suas impressões sobre as cidades, as pessoas, a cultura e os contrastes do Oriente. As notas permaneceram «escondidas» durante mais de 50 anos e seriam encontradas pelo filho do escritor, que as organizou e publicou já após o seu falecimento.
O livro é já caracterizado pelo brilhantismo de Eça e pela sua capacidade de captar a essência do Oriente. Esta viagem foi de tal forma marcante, que viria a influenciar algumas das suas obras, como “A Relíquia” ou “A Correspondência de Fradique Mendes”.
“O Egipto – Notas de Viagem” é publicado pela Livros do Brasil, chancela do Grupo Porto Editora.
SOBRE O LIVRO
Ideias de Ler
Título: O Egipto – Notas de Viagem
Autor: Eça de Queiroz
N.º de Páginas: 244
PVP: 13,30€
Coleção: Obras de Eça de Queiroz
SOBRE O AUTOR
Eça de Queiroz
Nasceu a 25 de novembro de 1845 na Póvoa de Varzim e é considerado um dos maiores romancistas de toda a literatura portuguesa, o primeiro e principal escritor realista português, renovador profundo e perspicaz da nossa prosa literária. Entrou para o Curso de Direito em 1861, em Coimbra, onde conviveu com muitos dos futuros representantes da Geração de 70.
Terminado o curso, fundou o jornal O Distrito de Évora, em 1866, órgão no qual iniciou a sua experiência jornalística. Em 1871, proferiu a conferência «O Realismo como nova expressão da Arte», integrada nas Conferências do Casino Lisbonense e produto da evolução estética que o encaminha no sentido do Realismo-Naturalismo de Flaubert e Zola.
No mesmo ano iniciou, com Ramalho Ortigão, a publicação de As Farpas, crónicas satíricas de inquérito à vida portuguesa. Em 1872 iniciou a sua carreira diplomática, ao longo da qual ocupou o cargo de cônsul em Havana, Newcastle, Bristol e Paris.
Foi, pois, com o distanciamento crítico que a experiência de vida no estrangeiro lhe permitiu que concebeu a maior parte da sua obra romanesca, consagrada à crítica da vida social portuguesa e de onde se destacam O Primo Bazilio, O Crime do Padre Amaro, A Relíquia e Os Maias, este último considerado a sua obra-prima. Morreu a 16 de agosto de 1900, em Paris.