Local de embarque © Inês Marques Local de embarque © Inês Marques
Publicado em Outubro 9, 2016

Um passeio de barco em Portimão e a casa de José Mourinho

Portugal [ Algarve ]

“Uma caminhada calma pela zona junto ao Rio Arade em Portimão pareceu-nos uma excelente maneira de aproveitar uma tarde de setembro”, assim começa o texto da leitora do Viaje Comigo, Inês Marques, que nos leva a passear por terras (e rio) algarvias. Com histórias das gentes da terra.

“Estava ainda a aproveitar o fresquinho de um gelado de baunilha, num dia a atingir praticamente os 40ºC, quando eu, juntamente com a minha família, fui intercetada por um senhor, que mostrava carregar 40 anos de experiência náutica:
“Ora bem, não vos apetecia dar uma voltinha de barco? Dava-vos a conhecer a Doca de Portimão, deitávamos um olhinho às grutas e… ainda vos dava a conhecer a casa de José Mourinho!”.
Engraçado como a casa de José Mourinho era, para este senhor, um ponto turístico.
“Olhe aqui entre nós… eles fazem-no por 10 euros cada pessoa… nós cá, ficamo-nos pelos 5 euros então”, explicou-nos com um sorriso entredentes.

Praia Grande e Castelo de São João do Arade © Inês Marques

Praia Grande e Castelo de São João do Arade © Inês Marques

Gostei bastante de este negócio ser um daqueles em que basta a palavra do momento, sem termos a preocupação de fazer uma reserva para dali a duas horas ou de nos termos de dirigir a um determinado local para comprar os bilhetes. Fácil e eficaz.

Lá fomos nós então num antigo barquinho de pesca de sete metros, completamente artesanal e que já havia sido utilizado para tal atividade no passado. A viagem começou imediatamente com uma curiosidade que deve ser desconhecida, até para as pessoas que passam as férias em Portimão todos os anos: a ponte ferroviária que se pode observar na zona ribeirinha entre pontes (chegou a estar encerrada devido à sua degradação) foi construída em 1876 segundo o design projetado por… Gustave Eiffel! Exatamente, o engenheiro da Torre Eiffel e que colaborou com Bartholdi na Estátua da Liberdade!

A viagem prosseguiu com uma passagem pela doca de Portimão, sempre com o nosso guia a debitar pormenores que não encontramos em roteiros turísticos. Ora falava das armadilhas de polvos que tinham de ter uma boa apresentação, senão este molusco não se sentia atraído pelas mesmas, ora da embarcação que pescava bivalves e que apenas podia funcionar duas vezes por semana de forma a proteger estas espécies.

Doca de Portimão © Inês Marques

Doca de Portimão © Inês Marques

“Também eu já andei nesta vida, mas já há mais de sete anos que deixei tudo isso para trás”, explica-nos com uma certa emoção depois de cumprimentar um velho colega de pescaria. “Estão a ver aqueles barcos acolá? Ora, esses são os de arrasto. Apanham tudo o que vier à rede!” murmurou, com um desagrado óbvio.

Acabámos por chegar a Ferragudo, uma pequena vila que mais se assemelha a um labirinto devido às suas ruelas muito apertadas. O Sr. Pedro não se demorou a explicar o porquê desta realidade: muito antigamente, a população era uma vítima constante de ataques de piratas. Daí, as ruas serem um pouco mais apertadas do que o normal, porque desta maneira dava tempo suficiente aos habitantes de se defenderem.

Serpenteávamos entre os barcos de vela e os iates, tentando não embater nos outros barcos de pesca quando ele apontou para uma casa: a de José Mourinho.

“Ele mais a mulher estavam nestas águas quando ela comentou que aquela casa era tão bonita que até gostava de a ter. Então, o Mourinho foi bater à porta do dono, sem a casa estar à venda, e disse-lhe para pensar num preço. Não é que a comprou mesmo?”

A verdade é que o principal objetivo de relatar esta história não é de querer atrair fãs de um bom rumor de almoço de Domingo. É que a emoção com que ele relatava cada detalhe desta história era tão contagiante!

Era óbvio o orgulho que este homem tinha por José Mourinho ter escolhido a sua terra como um local de férias.
Claro que a viagem não ficou por aqui: ainda houve tempo para uma visita rápida pelas grutas de Ferragudo, em que apenas a proa do barco cabia num espaço tão pequeno e pela praias Grande e da Angrinha, ambas separadas pelo Castelo de Arade.

A viagem foi memorável e mostra que o Algarve não é só praia. A verdade é que cada cidade, vila ou ruela tem a sua história. Histórias que ganham mais vida ao serem contadas por gente da Terra.

Texto e Fotos de Inês Marques

Praia Grande e Castelo de São João do Arade © Inês Marques

Praia Grande e Castelo de São João do Arade © Inês Marques

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